Editorial

A Astronomia nos Tempos Actuais

Porquê promover a Astronomia? Nos séculos passados esta questão tinha uma resposta rápida e bem definida: existiam aplicações imediatas para o estudo dos fenómenos ocorridos no céu. Por exemplo, conhecer o ciclo das estações permitia saber quando se deveriam lançar as sementes que garantiam a subsistência do ano seguinte. Já na época dos Descobrimentos, a observação dos astros permitia aos navegadores a determinação da sua posição no mar, e assim o seguimento da rota... Tão importante eram os mapas e técnicas de navegação que os povos que dominavam o mundo eram os que que sabiam Astronomia e a aplicavam a técnicas de navegação marítima! Porém, a questão que se põe actualmente é a de saber porque se deve continuar a investir em Astronomia. Tal como no passado, seguramente que podemos encontrar uma relação directa entre a astronomia de hoje e certos desenvolvimentos tecnológicos, que por exemplo levam à construção de instrumentos para a Medicina ou para a Engenharia. No entanto, o interesse em promover a Astronomia, ou qualquer outra área da investigação científica, existe para além das eventuais melhorias e aproveitamentos tecnológicos com interesse na sociedade.

De facto, o indicador designado por desenvolvimento científico e tecnológico já há algum tempo que faz parte do conjunto de parâmetros utilizados para a análise da qualidade de vida de uma sociedade. Por outras palavras, o conhecimento científico não é um luxo desconexo da vida real, mas afecta de modo inequívoco a própria sociedade. Sem ele não podemos ser cidadãos plenos, pois não nos apercebemos da globalidade do que existe em nosso redor; pior ainda, desconhecemos as nossas capacidades de realização e mesmo as responsabilidades enquanto membros da sociedade. Nesta perspectiva, uma sociedade de visão limitada que não promova a investigação científica, não estimula a curiosidade por aquilo que nos rodeia, e por isso corre o risco do isolamento e de enfraquecimento perante outras.

Infelizmente, em tempos de crise, são frequentemente a Ciência e a Educação os sectores mais penalizados, já que as consequências desta penalização só se fazem sentir dez ou vinte anos mais tarde. Quando pelo contrário se procura investir em Ciência e Educação, o incentivo político é baixo, também pela mesma razão! Os resultados só se fazem sentir várias legislaturas à frente (se o investimento se mantivesse de umas para as outras)...

De uma ou doutra forma, uma coisa é certa, a História da Ciência em Portugal não perdoará aqueles que, de uma forma ou doutra, deliberadamente ou por passividade, consciente ou inconscientemente, se constituírem como obstáculos ao desenvolvimento e modernidade na Ciência em Portugal. As vidas humanas são efémeras, sobretudo face à aparente eternidade dos fenómenos astronómicos. É sempre o Universo que ri por último!

João Lin Yun, Director do OAL

Setembro 2003