EDITORIAL

2005: Ano Internacional da Física.

No final do ano civil de 2004, os olhos e as esperanças de todos nós concentram-se no próximo ano, o ano de 2005. Será que a passagem do sol pelo solstício de Dezembro, anunciando a chegada próxima de um novo ano, irá trazer tempos melhores? O solstício de Dezembro é o momento em que o sol, atinge o ponto mais “baixo” da sua trajectória no seu movimento anual aparente em torno da Terra. A partir daí, a sua trajectória leva-o para “cima”, para valores de declinação mais elevadas.

Será que vamos todos para “cima” e podemos contar com tempos melhores? A menos que procuremos reduzir a nossa ansiedade usando artes divinatórias, não podemos dar resposta a esta questão, dado não ser cientificamente possível prever o futuro. Podemos contudo garantir que, pelo mundo fora, em 2005, se celebrará o ano internacional da Física.

De facto, cem anos depois do ano de 1905, temos mais que razões para celebrar esse ano mirabilis de 1905. Só nesse ano, Albert Einstein publicou cinco trabalhos, três dos quais são a base da nossa civilização tecnológica. Sem essas descobertas, o nosso mundo não seria o que é hoje. Dos lasers à energia nuclear, da célula fotoeléctrica aos GPSs, Einstein revolucionou o mundo com as suas descobertas de ciência fundamental que revelaram a forma como funciona o universo e tiveram depois tantas aplicações práticas insuspeitadas.

Nos últimos cem anos, a Física criou as condições para que a Astronomia possa explicar as origens do Universo, das galáxias, das estrelas, dos planetas, da Vida. Assim, a Astronomia modena designa-se hoje por Astrofísica e é por excelência a ciência do Universo. Gerações de estudantes no mundo desenvolvido têm se dedicado à tarefa de desvendar os enigmas do cosmos, tornando-se investigadores em Astronomia. Partilham depois com toda a humanidade as suas descobertas deste universo em que vivemos. Estas descobertas deliciam-nos e maravilham-nos pois tocam naquela conexão profunda e ancestral que nos liga ao universo, que nos prova que a nossa essência humana é comum à Natureza de que tanto nos afastámos mas que ansiamos tanto por re-encontrar. E essse re-encontro, quando acontece, faz-nos sentir simultaneamente humildes e grandiosos, pequenas centelhas vivas deste infinito profundo, em busca de si próprias ou do significado de si próprias.

Nem que seja simplesmente por este facto, porque a Astronomia nos torna mais humanos, políticos, governantes, autoridades responsáveis deveriam sentir o dever e o prazer de contribuir para oferecer à humanidade este conhecimento dignificador da espécie humana, apoiando e criando as condições para o desenvolvimento desta ciência milenar. Mesmo que não existissem as inúmeras vantagens práticas e económicas que a Astronomia tem trazido à sociedade (ver “O Observatório”, vol 10, nº 7), este facto chegaria para tornar o apoio à Astronomia uma tarefa obrigatória de qualquer sociedade que se diga civilizada. E um dia, se entretanto a nossa civilização não se auto-destruir, podemos estar certos de que chegará o tempo em que isso acontecerá. A humanidade dará mais valor às actividades que fazem de si uma espécie mais digna em vez de premiar as actividades que nos afastam do que melhor temos em nós. Dois mil e cinco é apenas o começo da celebração desta aventura. Convido todos os amantes desta maravilhosa ciência, quaisquer que sejam as tarefas que desempenham, a juntarem-se e a trabalharem para esse fim.

Um excelente ano de 2005! E que o resto das vossas vidas possa ser interessante e apaixonante...



João Lin Yun, Director do OAL

Dezembro 2004