EDITORIAL

Desinvestimento em Ciência e Educação?


Entrámos de vez no novo ano (de 2004 no calendário ocidental). 2003 ficou para trás. Um ano que ao nível de apoios oficiais à Ciência e à Educação é para esquecer. Desde 2002 que assitimos a uma diminuição de investimento em Ciência, traduzida pelo congelamento ou desaparecimento de financiamentos a projectos científicos e outras iniciativas de cultura científica. As esperanças de todos nós, investigadores, docentes e público, viram-se para a nova equipa do Ministério da Ciência e Ensino Superior que revela uma visão alargada dos problemas e vontade em os resolver. Ficam os votos de que esta equipa não veja as suas melhores intenções serem impedidas de tomar forma pelos altos responsáveis das finanças que têm asfixiado financeiramente o sector público. Para bem do desenvolvimento de Portugal, esperamos que o recente anúncio de um retomar de investimento em Ciência e Investigação para os anos de 2004 a 2006 se concretize de uma forma eficaz.

O receio de boas intenções que não tomam forma é devidamente fundamentado. Basta o seguinte exemplo; em Setembro de 2002, o Ministério da Educação lançava a excelente ideia de criar a Comissão para a Promoção do Estudo da Matemática e das Ciências reconhecendo que era extremamente importante reconciliar os alunos com a Matemática e a Ciência. Alguém ouviu falar mais dessa ideia? Infelizmente, o Ministério não deu seguimento à ideia e a Comissão pouco pôde fazer, tendo-se limitado a emitir um conjunto de recomendações que não foram implementadas. A ideia pouco passou disso: uma ideia, ainda que amplamente anunciada com pompa e circunstância. Ora como é sabido, a Astronomia constitui uma área priveligiada no que respeita à sua capacidade de atrair jovens para a Ciência. Diversos programas, que na União Europeia e nos Estados Unidos da América têm como objectivo contrariar a tendência que se poderia chamar de "desertificação" do estudo de áreas científicas, utilizam com sucesso os temas do Espaço e do Universo. Pois em Março de 2003, ciente da qualidade científica e educativa deste Boletim, instrumento poderoso para motivar os estudantes de vários graus de ensino, mas sobretudo do ensino secundário, solicitei ao Ministério da Educação um subsídio para a produção e distribuição do Boletim às Escolas Básicas e Secundárias. Ainda hoje, 10 meses depois, aguardo por uma resposta, que nem que seja por cortesia irei certamente receber, o que acham?

Felizmente para os amantes da Ciência, para as centenas de Escolas que recebem este Boletim, para as agora centenas de Bibliotecas Municipais que começaram a receber este Boletim, ainda existem pessoas de grande visão que tornaram possível a sua produção e distribuição. Em especial a Editora Gradiva, merece o nosso maior agradecimento por tornar possível que o trabalho criativo, gratuito, dos colaboradores desta publicação se possa materializar e chegar a estas centenas de Escolas, Bibliotecas e outras instituições. Enquanto houver pessoas assim, continuaremos a dar o nosso melhor para fazer chegar a todos vós o fascínio da Astronomia.


João Lin Yun, Director do OAL

Fevereiro 2004