EDITORIAL

Ensinar Ciência.

Há cerca de vinte e cinco anos que ensino Ciência, primeiro no Ensino Básico, depois no Ensino Secundário e finalmente no Ensino Superior. Em todos os casos, tornou-se claro para mim que o ensino é uma profissão de vocação, que se tem ou não tem. Todos nos recordamos de excelentes professores, mas infelizmente também de professores que apesar de muito saberem, sabiam-no para si próprios, a sua capacidade de comunicação era baixa. Depois havia aqueles professores que se esforçavam, davam o seu melhor, com maior ou menor sucesso, e por estes nós sentiamos uma grande simpatia. E havia também os que acreditavam estar a fazer o seu melhor mas cujas aulas não nos motivavam nem um bocadinho.

O sentido etimológico da palavra “vocação” é, apelo, chamamento. Os que têm vocação para ensinar partem para esta tarefa com grande vantagem. Após obterem uma formação científica tão sólida quanto possível, têm um jeito natural para motivar os alunos para a aprendizagem das matérias. Podem beneficiar de formação pedagógica que normalmente lhes é fornecida, mas o principal está dentro deles: a sua vocação, o seu chamamento para ensinar.

Aos professores universitários, porém, não é facultada nenhuma espécie de formação pedagógica. Parte-se do princípio (errado) de que ao nível do ensino superior a parte pedagógica é de menor importância face ao conhecimento científico. Contudo, sem boa capacidade de comunicação não é possível ensinar nada, e isto é verdade a qualquer nível de ensino, incluindo o superior. A situação no ensino superior é ainda mais agravada pelo facto da progressão na carreira não ser baseada na dedicação ao ensino mas quase exclusivamente na competência científica ao nível de trabalho de investigação. Temos todos de reflectir um pouco na forma como poderemos desempenhar melhor a nossa função. Há que ouvir os alunos e perceber como chegar até eles. Argumentos de autoridade só servem para denunciar o falhanço daqueles que os usam. Revelam assim que não sabem a que mais recorrer. E a todos os professores lembro a pergunta fundamental: como gostaria de ser recordado pelos seus estudantes?

Para que o desenvolvimento do nosso País se possa processar eficazmente, o ensino da Ciência tem que ser bem sucedido e a responsabilidade que todos nós professores temos é enorme e tem de ser aceite como tal. Por outro lado, ensinar é um serviço à comunidade de grande dignidade e que tem de ser apoiado fortemente por toda a sociedade pois perder esta batalha significa o sub-desenvolvimento científico, económico e social para Portugal.

Nos tempos que correm são cada vez mais precisas pessoas de grande visão e horizontes alargados. Há que evitar orientações meramente economicistas dos investimentos a efectuar. Investir na educação é assegurar o futuro. Há que ousar, inovar, desenvolver...

João Lin Yun, Director do OAL

Janeiro 2004