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Descoberta de um Enxame de Estrelas

No âmbito dos projectos de investigação que se desenvolvem no Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa (CAAUL) uma equipa de investigadores constituída por João Lin Yun (CAAUL), Dan Clemens (Universidade de Boston, E.U.A.) e pelo autor, descobriu um enxame de estrelas muito jovens situado perto do limite do disco da Galáxia.

Tudo começou pela construção de um catálogo de estrelas muito jovens (proto-estrelas)1 da nossa Galáxia. A utilização dos dados obtidos pelo satélite IRAS, permitiu seleccionar um grande conjunto de possíveis proto-estrelas (muitas das quais completamente desconhecidas), entre as quais a fonte designada por IRAS 07255-2012. Mas era necessário obter a confirmação da sua juventude. Como as estrelas nascem no interior de nuvens de gás e poeira, o primeiro passo foi o de confirmar que esta fonte estava associada com uma destas nuvens.

A detecção destas nuvens moleculares pode ser feita directamente observando as moléculas de gás que as constituem. A molécula mais fácil de detectar é o CO (monóxid o de carbono) e por esse motivo é habitualmente esta molécula que procuramos quando queremos descobrir a presença de nuvens moleculares. Mas a detecção de CS (sulfureto de carbono) permite concluir que dentro da nuvem molecular existem zonas mais densas propícias à formação de estrelas.

Para comprovar a existência das condições necessárias ao processo de formação de estrelas utilizámos o rádio-telescópio SEST do ESO, que nos permitiu confirmar a existência quer de CO quer de CS, o que nos indicou estarmos na presença de uma possível zona de formação de estrelas. Mas estes resultados permitiram também obter a sua distância ao Sol e ao centro da Galáxia. Assim, esta nuvem molecular situada a 10200 pc do Sol e a 16500 pc do centro da Galáxia encontra-se perto do limite óptico da nossa Galáxia.

Mas, como diz o ditado popular: "Ver para crer". A questão que se colocava a seguir era: conseguiremos "ver" esta ou estas proto-estrelas? Como as nuvens moleculares são opacas à luz visível, a solução é observá-las no infravermelho. Para isso começamos por utilizar o telescópio YALO(2) para obter imagens nas bandas J, H e K (1,25 microns m; 1,65 microns m; 2,2 microns m). Estas imagens mostraram pela primeira vez a existência de um enxame de estrelas muito jovens em formação dentro desta nuvem molecular distante. Mas devido à distância só conseguimos detectar as estrelas mais brilhantes e de maior massa (cerca de 30) do enxame. Para ver as estrelas mais fracas é necessário utilizar um telescópio maior. Assim pedimos e obtivemos tempo de observação no UKIRT(3) e no VLT(4). Um exemplo das imagens obtidas pode ser observado na imagem em baixo, onde se pode observar no centro da imagem um conjunto de estrelas pouco brilhantes que constituem o nosso enxame.

Uma das questões mais importantes para a qual esta descoberta pode começar a dar uma resposta é a questão da função de massa inicial. Esta função representa o número de estrelas de cada massa que se formam. Este número decresce à medida que a massa cresce e parece ser uma função universal (i.e. igual em todo o lado). No entanto resultados preliminares obtidos com os dados de que dispomos parecem indicar que neste caso o número de estrelas massivas em formação é inferior àquele que seria de esperar. Será um primeiro sinal da não universalidade da função de massa inicial?

Como normalmente acontece com todas as descobertas, o número de questões que suscita é maior do que o número de questões a que dá resposta. Por exemplo, a maior parte das nuvens moleculares conhecidas (e consequentemente zonas de formação de estrelas) encontra-se na zona interior da Galáxia ou então muito perto do Sol. Será que nesta zona exterior da Galáxia o processo de formação de estrelas decorre da mesma forma? Qual a influência da variação da metalicidade? Estas nuvens distantes conseguem formar estrelas de elevada massa? ...

Em resumo, uma equipa do CAAUL descobriu um enxame de estrelas muito jovens que se encontra muito perto do limite do disco da Galáxia. É o enxame jovem mais distante que se descobriu até ao momento e o conjunto questões que o seu estudo levanta pode vir a alterar a nossa visão sobre a formação e evolução da Galáxia.

Fig. Imagem do Enxame de Estrelas Jovens obtida com o telescópio UKIRT na banda K.
Nota:
(1)-Estrelas com idades inferiores a 10 milhões de anos. O Sol tem 4,5 mil milhões de anos.
(2)-Yale-AURA-Lisboa-Ohio, telescópio de 1 m situado em Cerro Tololo no Chile.
(3)-United Kingdom InfraRed Telescope, telescópio de 3,8 m situado no Havai.
(4)-Very Large Telescope, conjunto de 4 telescópios de 8 m pertencente ao ESO.

Dr. Carlos Antunes Santos
CAAUL, Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa



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