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Editorial

A lenta agonia dos Departamentos de Física

  Nos últimos anos, temos assistido àquilo que se pode chamar a desertificação das áreas científicas nas universidades. O número de estudantes que decide seguir uma carreira científica tem vindo a diminuir de uma forma sistemática e persistente, em todas as áreas científicas. Este fenómeno é mundial, não se restringindo a Portugal. Contudo, no nosso País é especialmente preocupante por duas razões:
  A primeira razão é que ao contrário de países tecnologicamente desenvolvidos, Portugal nunca chegou a ter um número satisfatório de estudantes, de técnicos e de investigadores; este défice põe em causa o desenvolvimento do País, pois o desenvolvimento económico está alicerçado no desenvolvimento científico.
  Todos sabemos isto e todos parecem estar de acordo neste ponto. E contudo... pouco ou nada se faz para contrariar esta tendência. As iniciativas realizadas na segunda metade da década de 90, foram abandonadas ou dificultadas. São exemplos disso: o programa "Ciência Viva", internacionalmente reconhecido e agora desapoiado; e o investimento intensivo em Ciência, tão necessário para combater a desertificação das áreas científicas e o atraso do País, que foi interrompido em 2002. Apesar do que tem sido afirmado por alguns responsáveis, tudo o que é ciência nos últimos anos tem vindo a ser reduzido, encerrado, reprimido. Convém pois julgá-los pelas suas acções e não pelas suas palavras ou promessas.
  A segunda razão é que ao contrário de países dinâmicos e com grande capacidade de mudança, Portugal possui estruturas e mentalidades muito difíceis de mudar. Vejam-se por exemplo os números (preocupantemente decrescentes) de estudantes nos departamentos de Física do País. Há vários anos que esta tendência começou a ser contrariada por muitos dos melhores e mais dinâmicos departamentos de Física, na Europa e nos Estados Unidos, que não hesitaram em reconverter áreas tradicionais da Física e em apoiar novas áreas como a Astrofísica ou a Biofísica, entre outras. Muitos deles alteraram os seus nomes de "Departamento de Física" para "Departamento de Física e Astronomia". Ao contrário, em Portugal, não existe um único departamento que inclua o nome de Astronomia e, em Lisboa, até muito recentemente, qualquer tentativa de desenvolver a Astronomia era fortemente reprimida! Dada a falta de visão e de espírito de equipa nos departamentos, na ausência de um professor catedrático que verdadeiramente se dedique 100% à Astronomia e Astrofísica, de uma forma profissional e abnegada, é quase impossível o seu desenvolvimento sustentado. Assim, ao arrepio do que é racional e se passa no resto do mundo desenvolvido, a Astronomia não se desenvolve nos Departamentos de Física, tendo tido algum desenvolvimento limitado nos Departamentos de Matemática de algumas universidades portuguesas.
  E quanto a outras entidades com responsabilidade no ensino e formação de jovens em ciência, como as Faculdades, os Reitores e o Ministério da Educação, o que têm eles feito? Qual o número de medidas eficazes que já tomaram para resolver este problema que põe em causa o esforço de desenvolver Portugal? Escolha a resposta de entre as seguintes alternativas:
A) 0 ; B) 2 + 2 - 4 ; C) log 1 ; D) 1 - (sen2y + cos2y) ; E) 0 x &Pie
  A Física é talvez a ciência mais básica e mais fundamental, tanto para o estudo do universo como para as aplicações tecnológicas. Há que dar a conhecer o seu valor, reconhecer a sua importância e reconciliar os estudantes com ela. Perder esta aposta teria consequências graves na situação de atraso científico e tecnológico do País. Como nenhuma situação é eterna, renovo aqui a esperança de um desenvolvimento científico e portanto económico para que o emprego no nosso País não se reduza à indústria hoteleira. Dada a efemeridade das vidas (e birras) humanas, nunca é demais recordar que é sempre o Universo quem ri por último.

João Lin Yun, Director do OAL
 

O Observatório esclarece as suas dúvidas de astronomia através do endereço electrónico: consultorio@oal.ul.pt

Manchas Solares

Questão:

Que ponto negro, visível a olho nu, foi possível observar no Sol a partir de meados de Julho?

  O misterioso ponto negro visto no disco solar durante o final de Julho é uma mancha.
  Tratou-se de uma mancha solar gigantesca do tamanho de Júpiter, que pôde ser vista a olho nu (com protecção é evidente!) Um telescópio com filtro próprio proporcionou imagens ainda melhores, obviamente.
  As manchas solares são regiões escuras da fotosfera do Sol (a sua "superfície" visível). Formam-se nos pontos em que o campo magnético solar aprisiona gás ionizado e este arrefece, ficando essas zonas com menos de metade da temperatura da zona circundante. Apesar de nos parecerem escuras, as manchas solares são zonas quentes e, se as pudéssemos ver isoladas, apareceriam também bastante brilhantes... Em comparação com a zona à sua volta, muitíssimo mais quente e brilhante, é que nos parecem escuras.
  O Sol girando no seu eixo, dá uma rotação completa em cerca de um mês, de modo que esta grande mancha ficou visível ainda até ao final do mês de Julho.

  Atenção: nunca olhe para o Sol sem protecção adequada!

A mancha maior é a que está em causa, vendo-se 3 manchas muito mais pequenas... Cortesia SOHO, NASA.

 

Ficha Técnica

O Observatório é uma publicação do Observatório Astronómico de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa, Telefone: 213616739, Fax: 213616752; Endereço electrónico: observatorio@oal.ul.pt; Página web: http://oal.ul.pt/oobservatorio. Redacção e Edição: José Afonso, Nuno Santos, João Lin Yun. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão: Fergráfica, Artes Gráficas, SA, Av. Infante D. Henrique, 89, 1900-263 Lisboa. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.
A imagem de fundo da capa é cortesia do ESO.

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