Os planetas extra-solares podem ser mais abundantes do que se julgava.

O número de estrelas com planetas em seu redor poderá ser muito maior que o
que se pensou até agora, concluiu recentemente um grupo de cientistas que
estudou diversas estrelas próximas.

Num trabalho de investigação publicado na revista científica Nature, os
astrónomos, que utilizaram um satélite europeu de Astronomia, descobriram
que as nuvens de hidrogénio molecular gasoso, a matéria prima de que são
feitos os planetas gigantes gasosos como Júpiter, podem durar milhões de
anos mais que o que se julgava até aqui, tornando muito mais fácil que este
tipo de planetas se forme.

Os cientistas planetários acreditavam que este hidrogénio presente nos
discos proto-planetários - as nuvens de gás e poeira que cercam as estrelas
recém-nascidas - estaria completamente retido em planetas no espaço de
alguns milhões de anos após a formação da estrela, à medida que se formavam
instabilidades no disco. Além disso, durante esta fase a poeira torna os
discos opacos aos telescópios ópticos, impedindo que os astrónomos observem
a formação do planeta, ou mesmo da própria estrela.

Para testar esta explicação, uma equipa de astrónomos holandeses e
americanos estudou diversas estrelas jovens com o Observatório Espacial de
Infravermelhos (ISO), um satélite de astronomia da Agência Espacial
Europeia (ESA), que operou entre finais de 1995 e meados de 1998. As três estrelas escolhidas - Beta Pictoris, 49 da Baleia e HD 135344 - perderam já a maioria dos seus discos proto-planetários originais, mantendo apenas pequenos finos anéis. De acordo com a teoria, estes anéis deverão manter muito pouco, se
algum, hidrogénio. No entanto, os dados obtidos pelo ISO revelaram
quantidades substancialmente superiores, suficientes, em alguns casos, para
formar dez planetas da massa de Júpiter.

Estas descobertas "sugerem que a formação de planetas jovianos pode ocorrer
em escalas de tempo de até 20 milhões de anos", notam os autores no seu
artigo. Esse período de tempo, diversas vezes superior ao anteriormente
aceite, abre as portas a um modelo alternativo, mais gradual, da formação de
planetas.

"Segundo este modelo, em primeiro lugar forma-se um pequeno núcleo
"tipo-Terra" e então o material mais leve do disco, o gás, é atraído pela
gravidade desse núcleo", explicou Ewine van Dishõeck, da Universidade de
Leiden, na Holanda. "Neste segundo modelo, a formação planetária dura mais
tempo que apenas alguns milhões de anos. Os nossos resultados implicam que
não se pode estabelecer uma regra. Não é necessário que os planetas se
formem assim tão rapidamente.".

Se o hidrogénio durar mais tempo à volta das estrelas jovens, isso daria
mais tempo aos planetas de se formarem, independentemente da forma como se
formem. "A descoberta de maiores quantidades de hidrogénio nos discos de
sistemas mais antigos sugere que os planetas jovianos se podem formar em
escalas de tempo da ordem dos 10 a 20 milhões de anos", disse Jack Lissauer,
um especialista em dinâmica planetária no Centro de Investigação Ames da
NASA, num ensaio que acompanha o artigo da Nature. "Isto significa que a
formação de planetas gigantes é provavelmente bastante comum, pelo menos em
torno de estrelas simples 'tipo-Sol'.".

Lissauer acredita que estudos de discos proto-planetários e de modelos de
formação planetária poderão explicar a razão de muitos dos planetas
extrasolares descobertos nos últimos cinco anos terem órbitas pouco comuns,
com planetas do tamanho de Júpiter a orbitarem a apenas alguns milhões de
quilómetros das suas estrelas-mãe. "A forma como o gás é removido de um
disco proto-planetário poderá ter tanta influência na configuração final do
sistema planetário como a vida do disco", afirmou este investigador. "Um
planeta atrai gravitacionalmente o material do disco que o rodeia, e esta
interacção pode alterar substancialmente as órbitas planetárias.".

Dado que o hidrogénio molecular não pode ser detectado directamente a partir
da Terra nos comprimentos de onda infravermelhos longos utilizados pelo,
agora inactivo, ISO, os astrónomos terão que esperar até que seja lançado o
novo Telescópio Espacial de Infravermelhos (SIRTF), da NASA, que ocorrerá em
Julho de 2002, para conduzir estudos subsequentes dos discos
proto-planetários. Esse telescópio deverá fornecer informação de muito maior
resolução que o ISO, permitindo estudos mais detalhados da formação
planetária.