UMA NOVA LUA QUE LEVANTA ONDAS
A primeira temporada de observações dos anéis de Saturno teve um início
espectacular com a nave espacial Cassini a confirmar as suspeitas da
existência de uma lua de Saturno escondida numa brecha de um dos anéis
exteriores deste gigante do sistema solar - o anel A.
A lua, provisóriamente designada por S/2005 S1, foi observada pela primeira
vez numa sequência temporal de imagens, obtidas em 1 de Maio de 2005, à
medida que a Cassini dava início à sua deslocação para inclinações mais
elevadas na órbita em torno de Saturno. Um dia depois, foi obtida uma
observação ainda mais próxima, o que permitiu a medição do tamanho e brilho
desta lua.
As imagens mostram o pequeno objecto no centro da brecha, designada falha de
Keeler, e padrões ondulados nas extremidades desta que são originados devido
à influência gravitacional desta lua. A falha de Keeler está localizada a
250 quilómetros da borda exterior do anel A, que é também a borda exterior
dos brilhantes anéis principais. Este novo objecto tem cerca de 7
quilómetros de extensão e reflecte cerca de metade da luz que nele incide -
uma luminosidade que provém tipicamente das partículas dos anéis
circundantes.
Para ver uma imagem da S/2005 S1, consulte:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/planetas/luasat.jpg
Pode-se observar na imagem a pequena lua situada na falha de Keeler e os
padrões ondulados nas extremidades do anel A.
Ainda é demasiado cedo para se poder definir a forma da órbita, embora o que
já foi observado do seu movimento, sugere que esta encontra-se muito próxima
do centro exacto da falha, tal como se presumia. Esta nova lua orbita
Saturno à distância de aproximadamente 136 505 quilómetros. Mais
observações da Cassini serão necessárias para determinar se a órbita desta
lua em torno de Saturno é circular ou excêntrica.
A S/2005 S1 é a segunda lua conhecida a "habitar" o interior dos anéis de
Saturno, sendo a outra a Pan que com 25 quilómetros de extensão, orbita o
planeta no interior da falha de Encke. Outras luas, como a Atlas e as duas
luas "pastoras", localizam-se fora do sistema principal de anéis. Prometeu
e Pandora são também referidas como "pastoras" e situam-se no anel F.
Os cientistas haviam previsto a presença da nova lua, assim como a sua
distância orbital a Saturno, após a observação em Julho de um conjunto
peculiar de feições delgadas e pontiagudas na extremidade exterior da falha
de Keeler. As semelhanças destas feições com as observadas no anel F e na
falha de Encke levaram os cientistas a concluir que um corpo pequeno, com
alguns quilómetros de extensão, espreitava no centro da falha de Keeler, à
espera de ser descoberto.
O efeito óbvio desta lua no material circundante do anel permitirá aos
cientistas determinar a sua massa e testar a compreensão de como os anéis e
luas se afectam mutuamente. Uma estimativa da massa da lua, juntamente com
a medição do seu tamanho, contém a informação da sua constituição física.
Por exemplo, a nova lua poderá ser bastante porosa, como um aglomerado de
borracha gelada em órbita. Outras luas próximas da extremidade exterior dos
anéis de Saturno - como a Atlas, Prometeu e Pandora - também são porosas. O
facto de uma lua ser porosa ou densa diz alguma coisa acerca de como foi
formada e a sua história subsequente de colisões.
As extremidades da falha de Keeler também contêm semelhanças aos recortes
curvos da falha de Encke, que tem 322 quilómetros de extensão e onde a lua
Pan reside. Pelo tamanho das "ondas" observadas na falha de Encke, os
cientistas foram capazes de estimar a massa de Pan. Eventualmente espera-se
fazer o mesmo a esta nova lua.
Alguns dos sistemas dinâmicos mais elucidativos que se espera estudar com o
auxílio da Cassini, são aqueles que envolvem as luas no interior das
brechas. Examinando como tal corpo interage com o material do anel
circundante, pode ajudar na aprendizagem de como os planetas do sistema
solar se poderão ter formado a partir do disco de material que circundava o
Sol há muito tempo atrás. Antecipa-se que muitas das falhas nos anéis de
Saturno possuam luas no seu interior, e a partir de agora estas serão alvo
de perseguição.
Observações adicionais, mais próximas do novo corpo, poderão ocorrer nos
próximos meses, à medida que a Cassini continua a sua observação intensiva
dos fantásticos e misteriosos anéis de Saturno.