PLANETAS ERRANTES
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Dois astrónomos britânicos afirmam ter detectado 13 "planetas
errantes" numa região de formação de estrelas na Nebulosa de Orion, a
cerca de 1.500 anos-luz da Terra. Estes mundos escaldantes não se
formaram da mesma forma que os planetas do Sistema Solar. De facto,
poder-se-ia perguntar se lhes podemos sequer chamar planetas. A
descoberta foi feita por Philip Lucas, da Universidade de
Hertfordshire, e Patrick Roche, da Universidade de Oxford, que
utilizaram uma nova câmara montada no Telescópio Inglês de
Infravermelho do Havai (o UKIRT).

As observações do enxame do Trapézio, na Nebulosa de Orion,
revelaram mais de 100 anãs castanhas, objectos que poderiam vir a ser
estrelas mas que não têm massa suficiente para tal. Com menos de 0,08
massas solares, estes objectos não geram calor interno suficiente para
desencadear as reacções de fusão nuclear que mantêm as estrelas a
brilhar durante longos períodos. No entanto, os cientistas dizem que
até mesmo as anãs castanhas produzem alguma energia nuclear por
períodos curtos desde que a sua massa seja superior a 0,013 massas
solares, ou seja, cerca de 13 vezes a massa de Júpiter, o maior
planeta do nosso Sistema Solar. Na verdade, os astrónomos definiram
esta massa como sendo a massa mínima de uma anã castanha. As recentes
observacões do UKIRT revelaram a existência de 13 objectos com massas
inferiores a esse limite de 0,013 massas solares. A massa do mais
pequeno foi estimada em não mais que oito vezes a massa de Júpiter.

Os investigadores chamaram a estes objectos "planetas errantes"
porque, segundo Lucas afirmou, "estes planetas, aparentemente, não
orbitam qualquer estrela, deslocando-se por si próprios através do
espaço. Tal como as estrelas, terão sido criados a partir da
contracção das nuvens interestelares de gás e poeira existentes
naquela zona do espaço". No entanto, como não atingem o limite mínimo
das 13 massas de Júpiter, terão libertado apenas o calor resultante da
sua formação.

"Não são seguramente planetas no sentido habitual do termo, já que
não orbitam nenhuma estrela" reconheceu aquele astrónomo. "No entanto,
deverão ter muitas das características físicas dos jovens planetas
gigantes, portanto considerá-los como planetas é uma questão de
definição do termo. Talvez pudéssemos encontrar uma nova palavra para
os classificar". Segundo Lucas afirmou, apenas dois objectos deste
tipo tinham sido detectados até hoje, por astrónomos japoneses que
examinaram a Nebulosa do Camaleão, no Hemisfério Sul, embora tenha
admitido que um grupo de investigadores das ilhas Canárias esteja a
preparar um relatório sobre outros objectos semelhantes, detectados no
enxame de Sigma de Orion.

A descoberta de 13 "planetas errantes", localizados num único
enxame de estrelas, sugere que estes objectos possam ser bastante
comuns. "Existem cerca de 100 mil milhões de estrelas na nossa galáxia
e, se este enxame estelar for típico, então deverão existir pelo menos
algumas centenas de milhões de "planetas errantes"", disse Lucas.

Alan Boss, um cientista planetário do Instituto Carnegie de
Washington (Estados Unidos), disse que os resultados do projecto UKIRT
são "excitantes... mas não revelam muita coisa sobre formação
planetária. Se utilizarmos a definição de planeta referida por Lucas,
então eles são efectivamente planetas, já que essa definição se baseia
apenas na massa", afirmou este astrónomo. No entanto, disse ainda que,
no âmbito da investigação dos processos de formação planetária, o que
se procura "são planetas semelhantes aos do Sistema Solar". Os
"planetas errantes", pelo contrário, "formaram-se, presumivelmente, da
mesma maneira que as estrelas se formam, apenas aconteceu que não
tiveram massa suficiente para serem verdadeiras estrelas". Boss
caracterizou estes objectos como "anãs castanhas de muito pequena
massa... mais uma curiosidade no zoo astronómico".

Os astrónomos pensam que a maioria das estrelas se formam em
gigantescas nuvens moleculares, vastas regiões de gás frio e poeira. A
nuvem molecular mais próxima está exactamente por detrás do gás
brilhante da Nebulosa de Orion. O enxame do Trapézio saiu recentemente
dessa nuvem molecular escura e foi precisamente essa a razão que levou
Lucas e Roche a escolherem essa região para efectuarem o seu estudo.

Dado que as anãs castanhas e os "planetas errantes" arrefecem muito
rapidamente, é mais fácil encontrá-los quando ainda são jovens e
emitem algum calor resultante do seu processo de formação. Lucas e
Roche afirmaram que os objectos agora encontrados no enxame do
Trapézio têm, na sua maioria, cerca de 1 milhão de anos, ou seja, são
ainda muito jovens se os compararmos com os 4,6 mil milhões de anos do
nosso Sol.

Importa esclarecer que as estrelas a que é dado o nome de anãs
castanhas não emitem luz visível, pelo menos que possa ser detectada
com os meios que actualmente possuimos. Este esclarecimento torna-se
necessário na sequência de um jornal diário português (Público) ter
publicado esta notícia dizendo que o nome destas estrelas advém do
facto de emitirem uma luz acastanhada. Isto não corresponde à
verdade. Na realidade, o seu nome provém da necessidade de se
caracterizar um tipo de objectos que se situa entre uma estrela
vermelha - o tipo de estrelas mais frias a emitirem no visível - e as
anãs negras, verdadeiros cadáveres estelares que não emitem qualquer
energia. Emitindo alguma energia que resulta - como se diz no artigo
mencionado - da formação da própria anã castanha, mas não sendo esta
detectável por meio de telescópios ópticos a partir da Terra,
escolheu-se a côr castanha como intermédia para denominar estes
objectos.


Nota: As coordenadas da Nebulosa de Orion (também catalogada como
Messier 42) são as seguintes:

AR : 05 h. 35 m. 17.2 s. (equinócio J2000)
Dec.: -05º 23' 29" (equinócio J2000)