Nave espacial alcança os limites do Sistema Solar
Uma nave espacial que se dirige para fora do Sistema Solar, a uma velocidade
tal que ligaria Nova Iorque a Los Angeles em menos de quatro minutos, poderá
alcançar, dentro de três anos, a primeira zona característica do limite entre o nosso Sistema
Solar e o espaço interestelar.
A nave espacial Voyager I, o objecto, feito pelo Homem, que se encontra mais
distante da Terra, poderá alcançar o começo da região limite do Sistema
Solar, entre princípios do próximo ano e o final de 2003, afirmou o Dr.
Edward Stone, cientista de projecto das missões Voyager e director do
Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA, em Pasadena, Califórnia, Estados
Unidos.
O acontecimento, a que se dá o nome de choque terminal, não ocorre exactamente no
local onde o Sol termina a sua influência. Ocorre, sim, no local onde se faz sentir
uma onda de pressão que recua de uma fronteira ainda mais longínqua, a
heliopausa, onde termina a região do espaço dominada por partículas emanadas
do Sol e se inicia o espaço interestelar.
Mas a região onde se dá o choque terminal não se mantém estática. A
actividade solar esperada provavelmente despoletará o vento solar,
constituído por partículas provenientes do Sol e que se dirigem para o
exterior do Sistema Solar, e começará a empurrar a heliopausa para zonas
ainda mais distantes dentro de aproximadamente três anos, afirmou o Dr.
Stone. A região do choque terminal poderá assim mover-se para distâncias
mais longínquas a uma velocidade superior à da própria Voyager I.
"Se não a alcançarmos dentro dos próximos três anos, poderemos não dar com
ela nos anos mais próximos", disse o Dr. Stone. "Por outro lado, seria
óptimo que a pudéssemos ultrapassar, já que ela alcançar-nos-ia
posteriormente e, assim, poderíamos ter um segundo olhar sobre ela.".
Stone estimou a distância à zona de choque e à heliopausa durante uma sessão
de uma conferência de cinco dias da União Geofísica Americana que decorreu
em São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos.
A Voyager I, construída, enviada e controlada pelo Laboratório de Propulsão
a Jacto da NASA, deixou a Terra em 1977 e efectuou um conjunto de
descobertas ao voar para além de Júpiter, em 1979, e de Saturno, em 1980.
Encontra-se agora cerca de duas vezes mais distante do Sol que o planeta
Plutão. A sua gémea, a Voyager II, efectuou uma grande excursão através dos
planetas gigantes e encontra-se actualmente a uma distância de cerca
de 80% da da Voyager I. A missão actual da NASA para as duas naves é a de
aprender mais sobre a zona fronteiriça do Sistema Solar e sobre o que está
imediatamente para além dele.
À medida que o Sol se movimenta através da galáxia, transporta consigo uma
bolha que o rodeia, a heliosfera, cheia de partículas do vento solar. O
vento solar transporta uma média de apenas uma meia dúzia de iões por
centímetro cúbico, quando passa pela órbita da Terra, número esse que é
ainda mais pequeno a distâncias maiores, mas exerce uma pressão no sentido
do exterior, estendendo a influência magnética do Sol.
Em qualquer local, a aproximadamente 100 ou mais Unidades Astronómicas - 1
Unidade Astronómica corresponde à distância do Sol à Terra - a pressão do
vento solar é contrabalançada por uma pressão proveniente do exterior da
heliosfera. Trata-se da pressão do vento interestelar, uma débil corrente de
partículas que flúi através da galáxia. O vento interestelar rodeia a esfera
de influência de cada estrela, tal como um rio rodeia as pedras cujas formas
pudessem mudar como se fossem balões elásticos.
"Esperamos aprender qual a verdadeira dimensão da bolha que o Sol cria para
si próprio e, pela primeira vez, qual a pressão existente no espaço
interestelar", disse o Dr. Stone.
Um método de estimar a distância até aos limites da bolha utiliza as
emissões rádio que se crê serem originárias da fronteira entre a heliosfera
e o espaço interestelar em resposta às explosões de ejecção de partículas do
Sol. Medindo o tempo que medeia entre a ocorrência de uma explosão solar e a
resposta que ecoa de volta para a nave espacial, consegue-se calcular qual a
distância que as partículas viajaram até alcançarem a heliopausa.
Um outro método utiliza a diferença entre a taxa a que os raios cósmicos de
um determinado tipo atingem a Voyager I e a taxa a que atingem a Voyager II.
Estes e outros métodos sugerem que o choque terminal poder-se-á encontrar a
uma distância de 80 a 90 Unidades Astronómicas, segundo afirmou Stone. È
mais longe do que o previamente previsto pela missão Voyager.
Espera-se que o choque terminal possua características tais de densidade de
partículas e de campo magnético que tornem a sua localização inequívoca
quando a Voyager I a atingir, fornecendo uma verificação exacta das ideias
utilizadas para prever a sua posição.