A MIR chega ao fim
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A estação espacial russa MIR navega no espaço há 15 anos. Mas a sua aventura
está prestes a terminar. Durante a próxima madrugada, a agência Espacial
Russa apontará a MIR rumo à Terra. Devido ao facto de ir atravessar a atmosfera
terrestre, a MIR irá aquecer durante a descida e quebrar-se a grande
altitude. Assim, a maioria das cerca de 1.500 peças em que a estação se irá
dividir, queimar-se-á devido ao atrito provocado pela sua deslocação a alta
velocidade através das camadas superiores da atmosfera. No entanto, as peças
maiores poderão resistir a essa viagem atingindo a superfície do planeta com
dimensões ainda consideráveis. Felizmente a sua queda está prevista para uma
zona desabitada do sul do Oceano Pacífico, algures entre a Nova Zelândia e o
Chile.
Este evento constitui uma grande notícia. Desde que os
russos começaram a construir a MIR, no ano de 1986, esta sobreviveu a um
incêndio, a uma colisão com a nave espacial Progress que é utilizada para
reabastecer a estação, e mesmo a ataques microbianos à sua cablagem por
micróbios que comeram o metal e o vidro dos cabos de fibra óptica que
equipam a MIR! Durante os 15 anos que esteve em órbita terrestre, a MIR
permitiu-nos aprender imenso sobre como viver e trabalhar no espaço.
Mas a MIR já não estava em condições de continuar no espaço devido às
sucessivas avarias e falhas orbitais. Neste momento está já no espaço a sua
substituta, a ISS, ou Estação Espacial Internacional, que tem a
participação, entre outros, dos Estados Unidos, da Rússia e da Europa. Além
disso é extremamente caro manter a MIR a navegar no espaço. Dinheiro esse de
que a Agência Espacial Russa não dispõe, apesar das diversas tentativas de
acordos com empresas e entidades privadas para o seu financiamento. Assim, a
Rússia irá fazer com que a MIR se despenhe, de forma controlada, no Pacífico
Sul. Para tal estão a ser tomados todos os cuidados para evitar a queda de
qualquer pedaço numa zona habitada.
A queda de um objecto tão grande no planeta Terra parece ser um
acontecimento muito raro, mas os cientistas que mantêm uma verificação de
todos os objectos que voam à volta ou próximos da Terra dizem que a entrada
de um objecto de 135 toneladas na atmosfera terrestre é algo que acontece
com relativa frequência.
Meteoros com um peso semelhante ao da MIR penetram a atmosfera do nosso
planeta cerca de 10 vezes por ano, segundo Bill Cooke, do Centro de Voo
Espacial Marshall da NASA. As imagens desses meteoros a arderem nas camadas
superiores da atmosfera são frequentemente gravadas pelos satélites
militares norte-americanos.
No ano passado, um meteoro de cerca de 200 toneladas surpreendeu as pessoas
no Canadá ao explodir com grande estrondo na alta atmosfera e ao
criar uma grande bola de fogo brilhante no céu. O meteoro fundiu-se quase
integralmente na atmosfera. Mais tarde uma equipa de cientistas encontrou
pequenos meteoritos na superfície gelada de um lago próximo do local da
explosão, mas nenhum deles era muito grande.
O que aconteceria se a MIR não se queimasse de todo na sua viagem através da
atmosfera e atingisse o solo tal como está agora? Bem, explodiria com a
violência de alguns milhares de toneladas de TNT e criaria uma cratera do
tamanho de um campo de futebol, segundo Bill Cooke. Mas isso não acontecerá
perto da superfície da Terra, já que "a atmosfera é uma excelente protecção
contra este tipo de objectos, desintegrando-os bem antes de atingirem o
solo", esclarece Cooke.
De facto, se a MIR fosse um meteoro nem sequer lhe chamaríamos um perigo.
Comparada com os verdadeiros "criadores de problemas" do espaço, a MIR é
simplesmente demasiado pequena. No entanto, os cientistas esperam que a MIR
crie um bom espectáculo ao cair!
A MIR e' formada por um conjunto de painéis solares, laboratórios e módulos
habitáveis que se foram acoplando ao longo do tempo. Não foi criada para voar
tranquilamente através da atmosfera. Assim, a estação ir-se-á desfazendo à
medida que for caindo em direcção à Terra.
"Nós esperamos que a MIR se fragmente em seis ou mais partes principais
quando sofrer o impacto das camadas mais espessas da atmosfera" diz Nicholas
Johnson do Centro Espacial Johnson da NASA, encarregue de estudar os
objectos em órbita terrestre. "Das cerca de 135 toneladas da MIR, os russos
estimam que aproximadamente 20 toneladas possam atingir a superfície do Oceano
Pacífico - na sua maioria em pequenos pedaços".
A MIR tem vindo a descer cerca de 1,5 quilómetros por dia à medida que sofre
cada vez mais os efeitos do atrito na, cada vez mais densa, atmosfera
terrestre e, se deixada cair por si, acabaria por se despenhar antes do
próximo dia 28 de Março. Mas essa queda poderia constituir um perigo para as
populações que se encontrassem por debaixo da sua órbita, já que não seria
possível prever o local exacto da sua queda. Assim, em vez disso, a MIR será
guiada até ao local escolhido, por uma nave espacial Progress que foi
acoplada à estação propositadamente para esta operação.
Durante a próxima madrugada, os russos deverão activar os motores do
foguetão Progress a fim de moverem a MIR em direcção à Terra, rumo ao
Pacífico Sul. "Esse será o local onde todas as partes que não forem
incineradas pela atmosfera irão cair" afirma Cooke. "Como esse local não é
habitado, não haverá perigo para ninguém".