"GALÁXIA COMETA" FORNECE PISTAS PARA A EVOLUÇÃO DE GALÁXIAS

Com o auxílio do telescópio espacial Hubble e de vários outros telescópios
terrestres e espaciais, os astrónomos foram capazes de observar uma galáxia a
ser "desfeita" por acção do campo gravitacional de um enxame de galáxias.

Esta descoberta fornece algumas pistas sobre o processo misterioso pelo qual
galáxias espirais ricas em gás podem eventualmente evoluir para galáxias
irregulares ou elípticas, pobres em gás, no decorrer de milhares de milhões de
anos. As novas observações também fornecem uma explicação para o mecanismo que
faz com que milhões de estrelas "vagabundas" sejam observadas espalhadas pelos
enxames de galáxias.

No Universo existem muitas galáxias de formas e tamanhos variados.
Aproximadamente metade destas são galáxias elípticas pobres em gás e que possuem
pouca formação estelar. A outra metade compõe-se de galáxias espirais e
irregulares, ricas em gás e que apresentam uma taxa de formação estelar elevada.
Observações realizadas mostraram que as galáxias pobres em gás são normalmente
encontradas perto do centro de enxames de galáxias, enquanto que as galáxias
ricas em gás encontram-se na sua maioria em isolamento. Observações profundas do
Universo colocaram um mistério aos cientistas. Quando o Universo tinha metade da
sua idade actual, apenas uma em cinco galáxias eram pobres em gás. Sendo assim,
como se originaram todas as galáxias pobres em gás observadas nos dias de hoje?
Os astrónomos suspeitam que tenha ocorrido algum tipo de processo de
transformação, mas como a evolução de uma galáxia ocorre durante milhares de
milhões de anos, não foi ainda possível observar a ocorrência destas
transformações.

Ao observar o enxame de galáxias Abell 2667, uma equipa de cientistas obteve um
dos melhores exemplos, até à data, destas transformações. Os astrónomos
descobriram uma galáxia espiral que se move através do enxame Abell 2667, após
ter sido acelerada até pelo menos 3,5 milhões de quilómetros por hora, por acção
do enorme campo gravítico combinado da matéria negra, do gás quente e de
centenas de galáxias presentes no enxame.

Para ver uma imagem do enxame de galáxias Abell 2667, consulte:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/galaxias/vag1.jpg

Nesta imagem é bem patente o enorme campo gravitacional deste enxame, que faz
com que a forma de outras galáxias mais distantes apareça distorcida. O arco em
forma de banana observado ligeiramente à esquerda do centro do enxame,
corresponde à imagem ampliada e distorcida de uma galáxia distante.

Atente-se agora no canto superior esquerdo desta imagem. É possível observar uma
galáxia espiral, de cor azulada, acompanhada de perto por algumas estruturas
globulares, também azuladas. Para ver um detalhe desta região, consulte:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/galaxias/vag2.jpg

De facto, esta galáxia está a atravessar o enxame Abell 2667 e, à medida que o
faz, o seu gás e estrelas são arrancados e dispersos pela acção das forças de
maré exercidas pelo enxame. A pressão do gás quente existente no enxame, que
atinge temperaturas entre os 10 e os 100 milhões de graus, é outro factor que
contribui para a "destruição" da galáxia. Vemos pois que, à medida que viaja
dentro do enxame (da parte inferior esquerda para a parte superior direita da
imagem), a galáxia vai deixando para trás estruturas azuladas que correspondem a
"pedaços" do seu material, ricos em gás, onde existe formação estelar.

O facto de ambos os processos descritos, as forças de maré e a pressão do gás
quente, serem semelhantes aos processos que afectam os cometas no Sistema Solar
levou os astrónomos a darem a esta galáxia, situada a 3,2 mil milhões de
anos-luz da Terra, o apelido de "Galáxia Cometa".

O facto de milhões de estrelas terem sido arrancadas à galáxia anfitriã, faz com
que esta acabe por envelhecer prematuramente.
Embora a sua massa seja ligeiramente superior à da Via Láctea, a galáxia irá
inevitavelmente perder todo o seu gás e poeira. Isto fará com que este objecto
perca a capacidade de formar novas estrelas e acabará por se tornar uma galáxia
pobre em gás com uma população velha de estrelas vermelhas. No entanto, no meio
desta destruição em decurso, as forças gravíticas fortes do enxame originaram
uma última explosão de formação estelar na galáxia condenada.

Os cientistas estimam que a duração total do processo de transformação rondará
os mil milhões de anos. As imagens obtidas com o auxílio do Hubble, mostram a
galáxia numa altura em que já passaram aproximadamente 200 milhões de anos desde
o início do processo.