UM "FAROL" NOS CONFINS DO UNIVERSO

Com o auxílio do observatório espacial de raios-gama, Integral, uma equipa de
astrónomos descobriu nos confins do Universo, um objecto intrigante descrito
como um "farol" de raios-gama.

Conhecido pelo seu nome de catálogo IGR J22517+2218, o objecto foi descoberto
este ano, embora a sua natureza tenha permanecido um mistério até agora. Isto
não é uma situação fora do comum. De facto, cerca de 30% das fontes descobertas
pelo Integral permanecem ainda por identificar. Embora os astrónomos possuam a
certeza da existência de fontes celestes que "inundam" o espaço com raios-gama,
a identificação destas fontes tem sempre de esperar por observações mais
detalhadas em outros comprimentos de onda.

No caso do IGR J22517+2218, os cientistas ficaram surpresos quando o telescópio
espacial Swift detectou este mesmo objecto em raios-X, revelando a sua posição
com uma precisão muito maior do que aquela que pode ser alcançada nos
raios-gama. Este objecto foi então identificado como sendo a já conhecida
galáxia activa MG3 J225155+2217. Esta galáxia é o objecto celeste mais
longínquo alguma vez detectado pelo Integral.

Para ver uma ilustração artística do observatório espacial de raios-gama
Integral, consulte:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/galaxias/farol1.jpg

Todas as galáxias activas possuem um buraco negro supermassivo com uma massa
entre um milhão e vários milhares de milhões de massas solares. Estes monstros
celestes possuem um campo gravitacional tão intenso que qualquer matéria nas
redondezas é "engolida". Neste processo são libertadas enormes quantidades de
energia.

As observações do Integral mostram que o IGR J22517+2218 liberta quantidades
colossais de raios-gama à medida que vai "engolindo" matéria, a um ritmo de uma
massa equivalente a todo o Sistema Solar em apenas alguns dias. As observações
também indicam que este objecto pertence a um tipo especial de galáxias activas
conhecido como blazar. Os blazares são o tipo de galáxias activas mais
energético.

Para ver uma ilustração artística de um blazar, consulte:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/galaxias/farol2.jpg

Os blazares são fontes de energia altamente variáveis e muito compactas,
associadas a um buraco negro supermassivo. Uma das características dos blazares
são os seus jactos relativistas (a azul na figura). Os blazares estão entre os
fenómenos mais violentos no Universo.

Os dados obtidos pelo Integral revelaram alguns factos curiosos. Embora tenha
sido possível classificar o IGR J22517+2218 como sendo um blazar, este objecto
possui certas características consideradas peculiares. Em geral, os blazares
possuem dois grandes picos de emissão. Em objectos aparentemente semelhantes ao
IGR J22517+2218, um dos picos ocorre no comprimento de onda dos infravermelhos
e é produzido pela radiação libertada quando os electrões se movem em espiral
em torno das linhas do campo magnético. O outro pico ocorre no comprimento de
onda dos raios-gama de alta energia e é produzido pelos mesmos electrões,
quando estes colidem com fotões.

No caso do IGR J22517+2218, o objecto aparenta possuir apenas um pico. Este
pico ocorre na banda dos comprimentos de onda dos raios-gama de baixa energia,
ou seja, fora dos intervalos convencionais. Isto indica que, ou o pico no
infravermelho foi deslocado para comprimentos de onda mais energéticos, ou o
pico de raios-gama de alta energia foi deslocado para comprimentos de onda
menos energéticos.

Em qualquer destes casos, quando a equipa de astrónomos responsável pela
descoberta for capaz de compreender o significado deste fenómeno, terá em mãos
algo que fornecerá uma maior comprensão acerca das galáxias activas e, em
particular, dos blazares.

A equipa espera continuar a observação deste objecto em todos os comprimentos
de onda, na tentativa de formar uma "imagem" completa da radiação emitida por
este corpo celeste. Desta forma, será possível obter uma maior compreensão da
forma como o buraco negro supermassivo, localizado no coração do IGR
J22517+2218, "devora" o seu meio circundante.