O CENTRO DOCE DA VIA LÁCTEA
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No centro da Via Láctea podemos encontrar nuvens interestelares
"salpicadas" de açúcar. Esta espantosa afirmação foi feita por um
grupo de astrónomos americanos, nomeadamente Jan Hollis do Centro de
Voo Espacial Goddard da NASA, Frank Lovas da Universidade de Illinois
e Philip Jewell do Observatório Nacional de Rádio-Astronomia (ONRA)
dos E.U.A. Estes cientistas submeteram recentemente os seus
resultados para publicação no Astrophysical Journal Letters.

De acordo com estes investigadores, esta descoberta poderá
auxiliar os cientistas a compreenderem melhor a formação de moléculas
mais complexas, que podem estar relacionadas com o aparecimento da
vida na Terra.

De facto, pensa-se que a composição química das nuvens
interestelares - as regiões onde se formam as estrelas - é semelhante
à das nuvens de gás que rodeavam a Terra nos primeiros tempos da sua
formação. Ou seja, é provável que os precursores químicos da vida se
formem em tais nuvens muito antes que os planetas se desenvolvam em
torno das estrelas. Se assim for, poderá explicar-se o aparecimento de
moléculas orgânicas nos primórdios da história de formação da Terra.

Até agora, já tinham sido encontradas mais de cem moléculas
simples no interior de nuvens interestelares, incluindo monóxido de
carbono, metanol e ácido acético.

Jan Hollis e os seus colegas questionaram-se se essas nuvens
também conteriam açúcar. Decidiram então procurar uma das moléculas de
açúcar mais simples que existem: o glicoaldeído. Esta molécula contém
apenas oito átomos (de carbono, oxigénio e hidrogénio), mas são
exactamente os mesmos que formam o metanol e o ácido acético, embora
dispostos de forma diferente. Apesar da sua aparente simplicidade, o
glicoaldeido é uma molécula importante: basta lembrarmo-nos que se
pode combinar com outras para formar a ribose - um dos blocos de
construção do ADN e do ARN, responsáveis pela transmissão do código
genético dos organismos vivos terestres - ou a glucose - o açúcar
contido nos frutos.

Para efectuar esta descoberta, a equipa de astrónomos utilizou o
rádiotelescópio de 12 metros de Kitt Peak, no Arizona, Estados Unidos,
apontando-o para uma nuvem interestelar gigante e fria, composta por
gás e poeira cósmica, perto do centro da nossa galáxia, a 26000
anos-luz de distância da Terra. Os sinais rádio obtidos revelaram
inequivocamente as emissões características do glicoaldeído saltitando
de um estado de energia para outro.

A equipa planeia agora cartografar a distribuição desta molécula
pelas nuvens galácticas. "Isto dar-nos-á uma ideia mais correcta sobre
onde e como procurar outras moléculas orgânicas, tais como os açúcares
complexos" afirmou Jan Hollis. Poderá mesmo trazer alguma luz ao
misterioso processo da formação de moléculas pré-biológicas no espaço.


Notícia adaptada de um artigo publicado na revista New Scientist e de
um comunicado de imprensa do ONRA.