UMA ESTRELA EM FORMA DE OVO!

Durante muitos anos os cientistas tiveram como assente que a estrela
Regulus apresentava um movimento de rotação bastante mais rápido que o do
nosso Sol. Observações recentes dotadas de um grau de precisão espacial
bastante elevado revelaram que esta possui uma forma alongada, semelhante
à de um ovo. Esta estrela massiva tem uma massa que corresponde a 5
vezes a massa do Sol e ainda assim completa uma rotação em 15,9 horas (o
Sol leva cerca de um mês). A extrema velocidade de rotação das camadas
gasosas faz com que a estrela apresente um bojo equatorial, com o
diâmetro equatorial maior que o diâmetro polar. A velocidade de rotação
no equador é, na realidade, 86% da velocidade limite para a qual o gás da
estrela se dissiparia.


Era um dado adquirido que Regulus, a estrela mais brilhante da
constelação do Leão, rodava muito mais depressa que o Sol. Agora, graças
a uma recente e poderosa formação de telescópios, os astrónomos podem
constatar com clareza o que tal realmente significa para este corpo
celeste.

Um grupo de astrónomos utilizou a formação de telescópios do Georgia
State University's Center for High Angular Resolution Astronomy (CHARA)
para detectar pela primeira vez as distorções induzidas pela rotação na
estrela Regulus. Os cientistas mediram o tamanho e a forma da estrela, a
diferença de temperatura entre as regiões polares e equatorial e a
orientação do eixo de rotação. Estes são os primeiros resultados
científicos obtidos com a formação CHARA, operacional desde o início de
2004.

A maioria das estrela roda calmamente em torno do seu eixo de rotação. O
Sol, por exemplo, completa uma volta em torno do seu eixo em cerca de 24
dias, o que faz com que a sua velocidade no equador seja de cerca de
7200 km/h. A velocidade de rotação equatorial para Regulus é de
cerca de 1 milhão de km/h sendo o seu diâmetro 5 vezes o diâmetro do Sol.
A estrela é também alongada no equador.

Veja um esquema da estrela Regulus em:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/estrelas/regulus.jpg

A força centrífuga de Regulus faz com que expanda de tal modo que o seu
diâmetro equatorial é 1/3 maior que o diâmetro polar. Na realidade, se a
estrela rodasse cerca de 10% mais depressa, a força centrífuga exercida
nas camadas de gás superaria a força da gravidade e a estrela dispersaria
o seu gás.

Devido à sua forma distorcida Regulus apresenta o fenómeno conhecido como
"gravity darkening" (obscurecimento por acção da gravidade) em que a
estrela se apresenta mais brilhante nos pólos que no equador. O
obscurecimento ocorre por a estrela ser mais fria no equador que nos
pólos. O alongamento de Regulus diminui o efeito da gravidade no equador
o que faz com que a temperatura decresça, sendo de 15 100 ºC nos pólos e
apenas 10 000 ºC no equador. A diferença de temperatura faz com que a
estrela seja cerca de 5 vezes mais brilhante nos pólos que no equador. A
superfície de Regulus é tão quente que a estrela é cerca de 350 vezes
mais luminosa que o Sol.

Os investigadores descobriram outra peculiaridade quando determinaram a
orientação do eixo de rotação da estrela. Quando obtemos a imagem da
estrela estamos a olhar para ela ao longo do equador e o eixo de rotação
apresenta um ângulo de 86 graus com a direcção norte-sul no céu.
Curiosamente, a estrela movimenta-se através do espaço na mesma direcção
em que o pólo aponta. Regulus movimenta-se como uma enorme bala rotativa
através do espaço e não se conhece a razão para este facto.

Os astrónomos observaram Regulus utilizando a formação CHANDRA durante 6
semanas para obter dados interferométricos que combinados com medições
espectroscópicas e modelos teóricos mostraram os efeitos da incrível
velocidade de rotação da estrela.

A formação CHARA, localizada no topo do Monte Wilson, no sul da
Califórnia, está entre um punhado de "super" instrumentos a nível mundial
compostos por multiplos telescópios ligados opticamente para funcionar
como um único telescópio de enormes dimensões. A formação é constituída
por seis telescópios, cada um com um espelho de 1 metro. Os telescópios
estão dispostos formando um Y, com os telescópios mais afastados
localizados a cerca de 200 metros do centro da formação.

A combinação precisa da luz colectada nos telescópios individuais permite
que a formação funcione como um único telescópio com um espelho de 330 m
de diâmetro. Com este instrumento não se conseguem detectar objectos
muito ténues como os que os telescópios maiores detectam. Em
contrapartida, em fontes mais brilhantes, consegue discernir detalhes com
uma resolução espacial muito elevada. Trabalhando nos comprimentos de
onda correspondentes ao infravermelho o CHARA consegue discernir detalhes
com um distanciamento angular de 0,0005 segundos de arco (1/3600 de um
grau), ou seja o tamanho de uma criança na superfície da Lua.