AGLOMERADOS DE ESTRELAS PODEM SER RESTOS DE GALÁXIAS

Aglomerados globulares de estrelas - agrupamentos de milhões de estrelas
muito próximas umas das outras - são alguns dos objectos mais belos que
podemos ver no céu. Na nossa própria galáxia contam-se cerca de 200 embora
os astrónomos acreditem que já teve muitos mais. Considera-se agora a
hipótese de que estes aglomerados estelares possam ser o que restou de
galáxias anãs irregulares que foram consumidas pela Via Láctea e despojadas
das suas estrelas. Uma equipa de astrónomos estudou 14 aglomerados
globulares e verificou que estes têm tamanhos enormes, quase ultrapassando o
tamanho de pequenas galáxias. Os aglomerados têm também muitas
características comuns com as pequenas galáxias.


Aglomerados globulares de estrelas são como catedrais esféricas de luz, com
milhões de estrelas a co-existirem num espaço com apenas algumas dezenas de
anos-luz de diâmetro. Se a Terra estivesse localizada num destes
aglomerados, o nosso céu nocturno estaria iluminado com milhares de estrelas
mais brilhantes que Sirius. (Pode ver uma ilustração na seguinte imagem:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/estrelas/2004-0813cluster-lg.jpg ).

A Via Láctea contém cerca de 200 enxames globulares mas já possuiu mais.
De acordo com a teoria hierárquica da formação galáctica, as galáxias foram
ficando cada vez maiores devido à incorporação de galáxias anãs mais pequenas
e de aglomerados estelares. Por vezes, a infeliz presa parece não ser
engolida por inteiro mas despojada das suas camadas exteriores deixando
apenas o "caroço". Uma recente investigação mostra que alguns enxames
globulares podem ser remanescentes de galáxias anãs que perderam as suas
estrelas exteriores por interacção com outras galáxias, tendo restado apenas
o núcleo galáctico.

Esta pesquisa revela-nos uma relação importante (ainda que intrigante) entre
os maiores dos enxames globulares e as galaxias anãs mais pequenas: os
enxames são muito mais concentrados em torno de um ponto do que as galáxias.
Assim os mecanismos de formação devem ser bastante diferentes. A
identificação de aglomerados globulares com massas na gama das massas das
galáxias é um passo muito importante para compreender como se formam os dois
tipos de objectos.

Os objectos observados situam-se na galáxia elíptica Centaurus A (NGC 5128).
(Imagem em http://www.oal.ul.pt/astronovas/estrelas/phot-14a-03-preview.jpg ).
Foram selecionados por serem os mais brilhantes e os aglomerados estelares
mais brilhantes são os que contêm mais estrelas, logo são os mais massivos.
Surpreendentemente, verificou-se que estes aglomerados são muito mais
massivos que a maior parte dos existentes no Grupo Local (que inclui a Via
Láctea e a Galáxia de Andrómeda).

Os 14 enxames globulares estudados tem uma massa 10 vezes maior que os seus
compatriotas na nossa vizinhança e seja qual for o processo que os origina,
ele pode produzir objectos realmente gigantescos. Alguns deste objectos
chegam a ser maiores que pequenas galáxias.

A descoberta de um buraco negro de massa intermédia no enxame globular da
Galáxia de Andrómeda, conhecido como G1, fornece-nos pistas de como enxames
podem estar relacionados com as galáxias anãs. A presença de um buraco negro
de tamanho moderado e mais compreensível se este tiver ocupado o centro de
uma galáxia anã, uma galáxia que perdeu as suas estrelas exteriores devido a
acção de Andrómeda, deixando apenas uma pequena parte daquilo que fora em
tempos.

Uma das descobertas mais surpeendentes é que o buraco negro em G1 obedece à
mesma relação entre a massa dos buracos negros massivos e a das galáxias nas
quais estes se encontram, estabelecida com bastante precisão para buracos
negros supermassivos no centro de grandes galáxias. Este resultado também é
mais compreensível se G1 tiver sido outrora o núcleo de uma galáxia maior.
É importante apurar se se encontram buracos negros no centro de outros
aglomerados massivos de Centaurus A.

Apesar de muitos dos enxames globulares da nossa Galáxia serem muito mais
pequenos que os de Centaurus A, os maiores enxames globulares da Via Láctea
são comparáveis aos das galáxias elípticas. As semelhanças entre os enxames
globulares massivos em ambas as galáxias podem sugerir mecanismos de formação
similares. Futuros estudos dos enxames globulares mais massivos explorarão
as ligações entre o processo de formação para aglomerados estelares e
galáxias.

Centaurus A está localizada a cerca de 12,5 milhoes de anos-luz de distância.
Tem cerca de 65.000 anos-luz de diâmetro e uma massa maior que a soma da
massa da Via Láctea e de Andrómeda. Centaurus A possui um total de 2000
enxames globulares, mais do que aqueles que possuem todas as galáxias no
grupo local combinada. Recentes observações desta galáxia com o Telescópio
espacial Spitzer (Spitzer Space Telescope) vieram a revelar que esta colidiu
com uma galáxia espiral há cerca de 200 milhões de anos.