PROCESSO MAGNÉTICO AUXILIA GRAVIDADE NA FORMAÇÃO DE ESTRELAS

Os cientistas conseguiram observar o interior de um berçário estelar poeirento
para capturar a mais recente e detalhada observação de uma nuvem de gás em
colapso a caminho de tornar-se uma estrela, algo análogo ao primeiro ultrasom de
um bébé.

A observação, realizada principalmente com o auxílio do Observatório Espacial de
raios-X XMM-Newton, da ESA, sugere que algum processo energético ainda por
compreender - provavelmente relacionado com campos magnéticos - está a
sobreaquecer a superfície do núcleo da nuvem, "empurrando-a" para cada vez mais
perto de se tornar uma estrela.

Esta observação marca a primeira detecção distinta de raios-X provenientes de um
precursor frio de uma estrela, designado por protoestrela de Classe 0, muito
mais cedo no processo de formação de uma estrela do que muitos especialistas
neste campo julgavam possível. Esta surpreendente detecção de raios-X
provenientes de tal objecto frio, revela que a matéria está a "cair" em direcção
ao núcleo da protoestrela 10 vezes mais rápido do que seria de esperar se
estivesse apenas sujeita à força da gravidade.

Com esta observação, pode-se ver a formação estelar no seu estágio embrionário.
Observações prévias foram capazes de distinguir a forma destas nuvens de gás mas
nunca foram capazes de espreitar para o interior delas. Esta detecção de
raios-X indica que a gravidade não é a única força a moldar estrelas jovens.

A equipa responsável por esta observação descobriu raios-X provenientes de uma
estrela de Classe 0 localizada na região de formação estelar R Corona Australis,
a cerca de 500 anos-luz de distância.

Para ver uma imagem desta região de formação estelar, obtida na banda dos
infravermelhos próximos, consulte:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/estrelas/formestrela.jpg

Na imagem podemos ver algumas protoestrelas (côr avermelhada) e estrelas jovens
(côr branca).

A Classe 0 é a classe mais nova de objectos protoestelares, cerca de 10 a 100
mil anos no processo de formação. A temperatura da nuvem é cerca de -240 graus
Celsius. Após uns poucos milhões de anos, a fusão nuclear tem início no centro
da nuvem protoestelar em colapso e uma nova estrela é formada.

A equipa especula que campos magnéticos presentes no núcleo em rotação da
protoestrela, acelera a matéria em queda para altas velocidades, produzindo
altas temperaturas e raios-X no processo. Estes raios-X podem atravessar a
região poeirenta e sair para o exterior revelando assim o núcleo.

Esta queda do gás é violenta. A emissão de raios-X mostra que algumas forças
parecem estar a acelerar a matéria para altas velocidades, aquecendo certas
regiões desta nuvem de gás fria até milhões de graus Celsius. A emissão de
raios-X do núcleo fornece uma janela para se prescrutar os processos escondidos
que fazem com que uma nuvem de gás fria colapse e forme uma estrela.

Para ver uma imagem da região R Corona Australis, obtida na banda dos raios-X, consulte:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/estrelas/formestrela2.jpg

Na imagem podemos observar seis protoestrelas (a azul) e a estrela de Classe 0
em questão, designada IRS7B localizada com uma seta.

A produção de raios-X na protoestrela de Classe 0 parece ser semelhante ao que
acontece no Sol quando ocorrem espículas solares. A superfície solar possui
muitas linhas de campo magnético, que por vezes se "entrelaçam" libertando
enormes quantidades de energia. Esta energia pode acelerar os átomos para
velocidades de aproximadamente 10,5 milhões de quilómetros por hora. As
partículas colidem com a superfície solar e criam raios-X. Assim, campos
magnéticos "entrelaçados" podem ser responsáveis pelos raios-X observados na
protoestrela.

Esta detecção de raios-X provenientes de uma protoestrela extremamente nova de
Classe 0 revela uma conexão crucial na compreensão dos processos de formação
estelar, pois acredita-se que os campos magnéticos têm um papel importante na
moderação do colapso da nuvem.

A equipa utilizou o XMM-Newton devido à sua capacidade poderosa de captação de
luz, necessária para este tipo de observações onde tão poucos raios-X penetram
na região poeirenta, e o notável poder de resolução do Chandra (o satélite de
raios-X da NASA) para localizar a posição da fonte de raios-X. Para determinar
a idade da protoestrela, a equipa utilizou o telescópio japonês de
infravermelhos Subaru.

A determinação da idade de uma protoestrela, à medida que esta evolui num
período de um milhão de anos, é baseada numa carta de espectros bem
estabelecida, ou nas características da luz infravermelha.