DESVENDADA ORIGEM DAS ESPÍCULAS SOLARES

Com o auxílio de modelos computorizados e imagens de alta resolução
da atmosfera do Sol, uma equipa de físicos solares conseguiu explicar a
origem dos jactos supersónicos, designados por espículas, disparados
continuamente através da baixa atmosfera do Sol. A origem destes jactos tem
sido um mistério desde a sua descoberta em 1877.

Uma imagem de uma região activa do Sol, com espículas, pode ser vista em:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/estrelas/plasmajets.jpg

Os resultados obtidos pela equipa, poderão conduzir a uma melhor
compreensão de como a matéria é propulsionada no sentido ascendente, para a
coroa solar, formando o vento solar - um fluxo de partículas emitido
continuamente pelo Sol que "varre" a órbita terrestre. Distúrbios neste
vento podem influenciar a atmosfera exterior e o ambiente espacial em volta
da Terra, danificando satélites em órbita.

A combinação de modelos computorizados, novas imagens de alta
resolução obtidas com o auxílio do Telescópio Solar Sueco de 1 metro (SST), e
dados obtidos simultâneamente através de dois satélites no espaço, foi
crucial para se desvendar como as espículas se formam.

As espículas são jactos de gás, ou plasma, provindos da superfície do
Sol propulsionados na direcção ascendente. Estes jactos são disparados em
direcção à coroa a velocidades supersónicas de aproximadamente 75 mil
quilómetros por hora, atingindo alturas de 4500 quilómetros em menos de 5
minutos. Embora existam, em qualquer instante, mais de 100 mil espículas na
cromosfera (baixa atmosfera), muitas das características destas permanecem
por explicar, em parte devido à dificuldade de se observar objectos com um
tempo de vida tão curto - cerca de 5 minutos - e de dimensões relativamente
pequenas (450 quilómetros de diâmetro).

Com o auxílio do telescópio SST e do satélite TRACE, foram obtidas
simultâneamente séries de imagens de alta resolução, que vieram ajudar a
descobrir que em muitos casos estes jactos ocorrem periódicamente,
normalmente de 5 em 5 minutos, e na mesma localização. Um modelo de
computador da atmosfera solar foi desenvolvido para mostrar que a
periodicidade das espículas é resultado de ondas sonoras na superfície, as
quais possuem o mesmo período de 5 minutos.

Estas ondas sonoras são mormalmente "absorvidas" antes de poderem
chegar à atmosfera. Contudo, foi descoberto que sob as condições certas, as
ondas sonoras podem penetrar na zona de absorção e escapar para a atmosfera
solar. O modelo de computador mostra que depois de uma onda sonora escapar
para a atmosfera, esta evolui para uma onda de choque que propulsiona a
matéria no sentido ascendente, formando assim as espículas.

Este modelo da atmosfera solar, que prevê quando os jactos de gás
deverão ser disparados, tem como base medições efectuadas às próprias ondas e
oscilações na superfície do Sol. Foi deveras uma surpresa muito agradável,
quando a equipa deu conta que o modelo prevê com uma grande precisão os
instantes em que os jactos podem ser observados.

As espículas transportam para a atmosfera solar mais de 100 vezes a
massa necessária para "alimentar" o vento solar. Isto significa que estes
objectos são de grande importância para equilibrar a quantidade de gás que
entra e sai da coroa. Revelada a origem das espículas, será agora possível
estudar se a massa que estas transportam para a coroa contribui ou não para o
vento solar. Estudos futuros irão também focar o papel que as ondas de
choque poderão desempenhar na coroa.